Bom dia! Vá lá, levantem-se, despachem-se, vistam-se, vá comam, despachem-se, já lavaram os dentes?, estão a olhar para a televisão? Vou apagar a televisão!!!!, estamos a ficar atrasadas! Têm tudo? o lanche já está nas mochilas! Têm água? vão buscar o casaco! Vá´´aáá´´aáá, estamos atrasadas!!!!!!! (Fecha-se a porta) (abre-se a porta) rápido! Vai lá buscar o boneco! Rápido!!!! (fecha-se a porta!)

10 horas depois:

(abre-se a porta) Vá, vão tomar banho! Já lá vou ajudar! Ponham a roupa no cesto! Levem os pijamas e cuecas com vocês! (a mãe pousa as compras e começa a preparar o jantar. O pai ainda não chegou. Afinal não podemos sair os dois cedo…..cedo?????) Panelas ao lume, uma corridinha à casa de banho…….não estão na banheira???? Não estão despidas???? Opáá´´aáá! Vá lá! Uma corrida à cozinha. De volta à casa de banho. Um mini lago na casa de banho….uns gritos para acalmar a situação (???), esfregar cabeças, lavar, pôr amaciador. Uma corridinha à cozinha. de volta para ajudar a secar cabelos. Vá, Há tpc’s? Vão lá fazer e eu já vou ver as dúvidas. Jantar a fazer, dar uma ajuda nos tpc’s. Tentar combater o cansaço e a vontade delas de irem brincar (caramba são crianças!!!!). O pai chega, o jantar está pronto. Vá vamos jantar! Depois do jantar, que no mínimo, é às 20h (não metendo aqui atividades extra, que também são tão importantes), brincam uns minutos, os pais arrumam a cozinha (ou a mãe) e é hora de ir para a cama.

Tirei desta descrição birras ou embirrações com a comida e todo o tipo de quezilias entre irmãs…..ó mãe ela fez isto! ó mãe mas ela fez 1º….. que conseguem destabilizar uma pessoa no final do dia. ….. soa-vos a familiar? E parece-vos saudável?

Durante alguns anos eu tive inícios e finais de dias assim: a gritar, a ficar completamente descontrolada no final do dia, a sentir que às 19h ia ter mais uma jornada tão ou mais exigente que a que tinha tido durante o dia. Mas sentia-me tão mal, sentia que eu não era assim. Eu não queria ser assim. Comecei a tentar mudar, a tentar não gritar, a tentar ser uma mãe presente, MESMO presente, que não sentisse quase como um fardo o pouco tempo que tinha com as minhas filhas, principalmente ao final do dia. Li muito, e um post fez-me mesmo muito bem. Ainda o guardo e já falei dele aqui Este mudou-me por dentro…vamos ver a vocês 🙂

Tentei perceber que estratégias podia utilizar para que as coisas funcionassem como eu queria, sem gritos, sem me zangar. E consegui! Claro que não foi de um dia para o outro, claro que elas também vão crescendo e as coisas (às vezes) tornam-se mais fáceis, mas podemos tentar melhorar (e claro que, de vez em quando, ainda há um ou outro grito).

Uma das estratégias de manhã, que passou a ser regra para mim, é estar completamente despachada quando as vou acordar. Acordo mais cedo, é verdade, mas ganha-se tanta paz. Paz a arranjar-me, a tomar o pequeno-almoço, a preparar almoços e lanches e….principalmente, paz com elas. Isto foi muito útil quando a mais nova era mesmo pequenina e a mais velha ainda precisava de ajuda. Mas ainda o faço. Tornou-se um hábito, um bom hábito!

Ao final do dia a chave é “mindfulness” ou seja,  se estou com elas é com elas que a minha cabeça está! Não está em mais lado nenhum e tudo corre bem. A sério! Sei que por vezes é dificil desligar mas faz-nos tão bem e conseguem-se milagres! Porque muitas vezes nós não estamos lá, nem as ouvimos, nem percebemos o que precisam. A sério, tentem só. Tenho a certeza que se vão surpreender.

Claro que os horários dos pais e mães não ajudam, aliás, eu acho mesmo que o problema é esse. Eu tenho um horário bastante flexivel o que me permite trabalhar muito à noite e gerir a minha vida e posso dizer sinceramente que isso faz muita (toda a) diferença. Devia ser possível um dos pais poder ir buscar os filhos às 16.30, 17h. Afinal às 16.30 os nossos filhos já têm, no mínimo, 7.30h fora de casa!

Lá por fora, muitas mães trabalham em part-time (parte da manhã) ou 2 ou 3 dias por semana. Eu sei que isto choca muitas mães, afinal querem igualdade e gostam de trabalhar (estudamos tanto e esforçamo-nos e até somos melhores alunas que eles), mas para algumas de nós, se pudessemos trabalhar mas com tempo (tempo não corrida) para vermos crescer, brincar, ajudar nos tpc’s e poder levar os nossos filhotes ao parque no final do dia, ou simplesmente ir para casa com tempo para brincarem, sem estar sempre a correr…..acho que  muitas preferiam. O tempo passa depressa demais e não volta para trás. Pela minha experiência o que elas mais gostam é chegar a casa e brincar! Uma com a outra! Adoram!! e para isso é preciso tempo…

Li este artigo que me fez lembrar de algumas mulheres extraordinárias que conheci em lugares de topo mas que nunca me causaram admiração pessoal, apenas profissional, porque lá está….não há milagres! Podem ler aqui. Sempre que me cruzei com mulheres de topo, excelentes profissionais que deram tudo pela sua carreira, a outra parte, obviamente, ressentia-se.Mas tudo isto depende do que nos faz sentir realizadas. E isso é com cada uma (desde que não faça sofrer ninguém, principalmente crianças que não pediram para nascer).

Eu não defendo que as mães devem ficar em casa, longe de mim tal pensamento! Adoro o meu trabalho e faço-o com paixão. Aliás, costumo dizer que sou uma sortuda porque adoro o que faço e, por essa razão, vou sempre trabalhar com um sorriso. E quando entro na sala de aula dou o meu melhor!

Não falo para mim, mas para tantas mães que vejo completamente de rastos e a sentirem-se mal por não terem tempo para os filhos.  Simplesmente defendo que o ideal seria um dos pais poder trabalhar em part time para poder ter tempo para acompanhar os filhos.

E mesmo antes de publicar este post dou com este. Afinal há muita gente a sentir o mesmo! Temos que abrandar…olhar para o dia a dia e vivê-lo, rir, brincar, cozinhar para nós, ter tempo para jogar com as nossas crianças e aproveitar os pequenos (grandes) momentos! Não é preciso muito, apenas dar valor ao que temos e aproveitar! A nossa vida profissional não tem menos valor por nos sentirmos assim. Aliás, vão, com certeza, trabalhar mais “cheios” (de amor, de alegria e de sentimentos de missão cumprida). Há coisa melhor?

E vocês, o que acham? Sentem isto também?

 

 

2 thoughts on “Mães (inícios e fins de dias e o que nos preenche)

  1. Ser mãe (e pai) é, acima de tudo, uma aprendizagem! Mas, quando o que nos motiva a aprender são os nossos tesouros mais preciosos, o resultado só pode ser algo melhor. Acho que é por isso que fui conseguindo evoluir e melhorar a minha relação com as minhas filhas. Sim, há momentos de desespero e em que é difícil parar, respirar fundo e evitar a explosão. Mas os anos e as vivências vão nos dando essa capacidade. Capacidade para olhar o pôr-do sol (ou a lua cheia a brilhar) e parar para os admirar, sem pensar no que ainda está por fazer. Capacidade para pedir mais um beijo e mais um abraço, mesmo quando os olhos estão fixos na televisão e isso nos magoa porque acabámos de chegar a casa, cansadas de mais um dia de trabalho e só nos apetece ver aquele sorriso e ter aquele abraço gostoso que só os nossos filhos sabem dar…sim, capacidade para parar e pedir-lhes mais esses carinhos.
    Neste último fds prolongado fiquei orgulhosa de mim…fomos para Tróia e estava mto vento na praia, entrou areia para os olhos da Beatriz e ela ficou muito aflita. Depois de um dia a irrigar com soro fisiológico e a manter o olho fechado, tive que insistir com ela para vermos com mais atenção o que se passava e lá me deixou espreitar o interior da pálpebra superior, onde estava alojado um minúsculo grão de areia! Depois de lhe explicar com muita calma que tínhamos que revirar a pálpebra e retirar o grão com um cotonete (tal como o oftalmologista lhe tinha feito há uns meses atrás por algo semelhante) e que não doía nada, aliás, isso ela já sabia…já sabia mas não queria saber!…recusava-se a deixar-me fazê-lo e queria que fossemos ao oftalmologista (que só voltava na 2ª-feira!), e isto tudo com muito choro à mistura… Noutros tempos, eu aborreceria-me com ela, fazia-lhe o discurso do “se não colaboras temos que ir para o hospital e vai ser muito pior!” e seria tudo bem mais “traumático”. Aliás, estava uma amiga connosco (também mãe de um menino de 5 anos e uma bebé de um ano) que tentou essa abordagem mas eu abri-lhe os olhos e ela recuou…naquele momento eu só pensava ” esquece o jantar que ainda está por fazer, tens todo o tempo do mundo para resolver este problema!”. E assim foi, depois de mais de uma hora nesta negociação consegui (sem revirar a pestana…o que ainda me espanta!) retirar o grão de areia da pálpebra de Beatriz, já sem ninguém a assistir porque já todos tinham desistido! E terminámos as duas abraçadas, a chorar e a rir!

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